“Tokenization possibilities are limitless”, says Central Bank consultant*
Antonio Guimarães, consultor do Banco Central, defendeu que o uso do blockchain é uma mudança de paradigma no sistema financeiro
Por Ricardo Bomfim Valor — São Paulo
21/03/2024 18h05
Painel do primeiro OT Day. Da direita para a esquerda o mediador Rafael Gregório, Antonio Guimarães (BC), Daniel Coquieri (Liqi), Erik Oioli (VBSO) e José Alexandre Freitas (Oliveira Trust) — Foto: Divulgação
Apesar de todas as iniciativas criadas até hoje no sentido de tokenizar ativos, ainda há muitos modelos de negócio inexplorados que podem ser criados com a utilização de blockchain para certificar a propriedade de um ativo e fracioná-lo. “As possibilidades com tokenização são ilimitadas”, disse Antonio Guimarães, consultor do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do Banco Central no primeiro OT Day, evento realizado pela Editora Globo em parceria com a Oliveira Trust, em São Paulo.
“A tokenização elimina intermediários, mas não é isso que a torna tão disruptiva. É uma mudança de paradigma”, afirmou. Na opinião do executivo do BC, o uso do blockchain pode potencializar a portabilidade dos bancos de maneira que vai muito além do que foi conseguido até agora com os sistemas legados. “Você terá de forma disponível e imutável toda a cadeia e as regras que validam as transações. É uma vantagem em relação ao modelo tradicional. Hoje, as etapas estão centralizadas dentro das instituições”, explica.
Para José Alexandre Freitas, CEO da Oliveira Trust, a tokenização está trazendo novos investidores e empresas para o mercado ao permitir que operações menores sejam rentáveis, algo que traz acesso a financiamento para diversas empresas de médio porte que hoje são reféns dos juros dos bancos. “Eu vi grandes bancos falarem que operações com menos de R$ 100 milhões eles nem olham. É isso que dá origem aos grandes spreads na antecipação de fluxos de recebíveis”, avaliou.
Erik Oioli, sócio diretor e fundador da VBSO Advogados, argumenta que o uso do blockchain não irá remover todos os intermediários, mas trará eficiências que permitirão a abertura de um leque muito mais amplo de oportunidades no mercado de capitais. “O bitcoin está aí há 16 anos e as pessoas confiam na tecnologia por trás. Se transplanto a tecnologia para o mercado tradicional como infraestrutura trago essa confiança”, disse.
Um dos casos em que isso foi realizado foi citado no evento por Daniel Coquieri, CEO da Liqi: o Token de Investimento em Direitos Creditórios (TDIC), desenvolvido junto com a Oliveira Trust, o VBSO e o banco Itaú. “Programamos todas as regras em blockchain. Nem tudo pode ser feito assim, mas é interessante, porque consigo visualizar a carteira de ativos em tempo real. Nosso piloto foi 60% mais barato do que a estrutura tradicional”, destacou.
Outro exemplo é o da BEE4, fintech que faz ofertas de ações tokenizadas para empresas que teriam maiores barreiras a acessar o mercado via uma Oferta Pública Inicial (IPO) tradicional. “Casos como o nosso talvez abram caminho para o setor financeiro, mas não é só o blockchain. Não pregamos a eliminação de intermediários, pois cada parte é importante para o processo”, contou Paloma Sevilla, head de produtos e IMF na BEE4. Paloma defende que o blockchain pode ser uma ferramenta importante para a criação e certificação de identidades digitais confiáveis, algo que traria mais segurança e oferta de serviços para o usuário.
De acordo com Thamilla Talarico, sócia de blockchain e ativos digitais da EY, o blockchain será usado no futuro para casos que os empreendedores ainda não conseguem imaginar. “Hoje temos a utilização do blockchain para casos de uso já conhecidos. Conforme os projetos forem a fundo, conseguiremos repensar nossa estrutura com a tecnologia. Não serão só debêntures, CRIs, CRAs, ações e programas de fidelidade, mas concessão de crédito com colateralização de um ativo que você já tem e outros modelos”, citou. Na opinião da especialista, do mesmo modo como o PIX trouxe muita gente para dentro do mundo bancarizado, a tokenização pode trazer a democratização do acesso aos serviços financeiros.